TEMPORADA INTERNACIONAL DE VERÃO 2022

Após acompanhar alguns desfiles da temporada internacional de verão 2022, selecionei aqui alguns destaques que chamaram a minha atenção.

Antes de tudo, abrir mão do formato digital não me pareceu uma boa idéia, mesmo após mais de um ano sem desfiles presenciais.

Bom, a temporada internacional de verão 2022 foi encerrada na última semana de setembro, onde muita gente criou expectativas pelo momento da virada, mas, não foi bem isso que aconteceu…

Com mais de 4,5 milhões mortos em todo o mundo, a maior pandemia da história nos força a fazer uma revisão geral de tudo que anda acontecendo com a moda.

Eu, por exemplo, passei a olhar diferente pra minha casa, pra mim, pros outros e pro mundo. Muitos movimentos foram marcados em busca de justiça social, climática, ambiental e democracia.

Na moda, me questionei sobre o consumo, a produção, o tempo de lançamento, o valor das roupas e todos os investimentos atribuídos. Mas, ainda assim, senti muita falta da sensibilidade sobre tudo o que estamos passando.

Apesar dos discursos engajados nos últimos tempos, senti também a impressão de apego ao passado com celebridades ostentando seus privilégios na primeira fila e ultrapassando a ideia de luxo, por exemplo.

Mas, houveram algumas tentativas de fazer algo diferente…

É só continuar a leitura para conferir agora as tendências mais relevantes da temporada internacional de verão 2022.

Corona fashion

O retorno dos desfiles presenciais com direito a plateia e tudo mais, aconteceu graças ao sucesso das campanhas de vacinação.

A semana de moda de Nova York, por exemplo, exigiu comprovante de vacinação completo para os convidados nas apresentações.

Aliás, em novembro deste ano, algumas semanas de moda aqui do Brasil, como a São Paulo Fashion Week e Casa de Criadores, querem retornar com os eventos físicos também. Mas, não espero muito, apenas que o mínimo de bom tom possa ser seguido.

Moda e diversão

Uma das apresentações mais importantes não aconteceram nas passarelas, na real, foi quase como uma coletiva de imprensa para comunicar o retorno dos desfiles presenciais.

O diretor de criação da Balmain, Olivier Roustein, transformou o desfile de verão 2022 da Maison em um festival de música de dois dias.

“Acho que a única forma da moda sobreviver é por meio da conexão com outras áreas da cultura.” (Revista ELLE impressa. Vol. 5)

Enfim, outra coisa super legal que eu achei foi a abertura ao público: dois dias de apresentação, um com entrada gratuita e outro mediante doações de no mínimo 15 euros combate ao HIV e AIDS.

É bem comum que vários eventos de moda sejam em locais abertos, mas, aberto ao publico é outro papo. Todavia, espero que isso realmente esteja fazendo sentido em tempos de discursos sobre mais acesso, inclusão e diversidade.

Não vi a passarela

Na Balenciaga, moda & entretenimento também se cruzaram. A começar pela atração principal do evento: o curta feito em parceira com Os Simpsons.

Antes da exibição, famosos, convidados e desconhecidos foram apresentados pela coleção de verão 2022. Todavia, o fato era que ninguém sabia o que estava acontecendo.

A maioria vestia peças da grife, mas, nem tudo ficava claro que era coleção nova.

O questionamento de verdadeiro ou falso, trouxe mais conceito visando quebrar os limites entre plateia e passarela, aproximando a moda à uma ideia de realidade mais plausível do que aquela apresentada por um grupo de modelos padrão.

No red carpet da Balenciaga tinha quase de tudo: gente alta, baixa, gorda, magra, jovem, velha, trans… A marca realmente salvou a temporada internacional de verão 2022.

Enquanto isso, o diretor da Marni vestiu não só quem ia desfilar como também os convidados que assistiram. O desfile foi quase um ritual comunitário com todos participando do rolê.

Moda exportada

É Brasil na New York Fashion Week! Após duas apresentações digitais, a grife PatBo, de Patrícia Bonaldi se apresentou na edição presencial.

Marco histórico na vida da marca que tornou-se internacional com o lançamento de sua primeira loja fora do Brasil, no bairro de Soho, em New York City.

Quem abriu e fechou o desfile foi a grandiosa Alessandra Ambrosio.

Muita sorte

Quem estreou na semana de moda novaiorquina foi o estilista vietinamita Peter Do. A marca foi criada em 2018 e ganhou uma legião de seguidores e fãs.

O estilista olhou para sua primeira coleção aperfeiçoamento sua identidade visual e marca registrada: uma alfaiataria precisa, silhuetas alongadas e aquela sensualidade bem típica.

Ser formal também é cool

E por falar em alfaiataria, o tema continua importante. Durante os meses de pandemia severa, a expectativa era que todo mundo fosse se vestir de maneira extravagante.

Mas, não é bem isso que está acontecendo. Nossa realidade não é totalmente otimista. Um pouco de estrutura e formalidade parece mais atraente do que o glamour alienante.

Hoje, após mais de um ano só com roupas confortáveis de ficar em casa, até que essa tendência faz bastante sentido. Muitas marcas estão voltando suas atenções à peças de alfaiataria ou inspiradas nesse segmento.

O blazer é o principal destaque na versão clássica, mas também mais coloridos ou com tecidos menos rígidos. A calça de cintura alta também merece atenção.

Sexo vende?

Depois da pandemia, a estimativa para o verão 2022 era de muita pele à mostra. Realmente, não faltaram mini comprimentos, recortes, roupa colada e sensualidade à flor de pele.

Por isso, vale super a pena dar uma atenção ao desfile da Prada, que mostrou uma das melhores interpretações sobre os jogos de sedução da temporada.

Pequena notável

Outro exemplo com pele à mostra, foi o retorno da minissaia: uma peça cheia de história, que se destacou principalmente pela grife Miu Miu.

Miuccia Prada apresentou a coleção fazendo referência as suas próprias forças divergentes.

Unida as videoinstalações da artista marroquina Meriem Bennani, a coleção parecia ser a manifestação entre o que o mundo está sentindo falta, rotina e saudades do toque.

De volta aos 60 mais uma vez

A loucura dos anos 20 deixou muita gente obcecada. Muitas diziam que depois da vacina as pessoas viveriam uma onda muito similar.

Mas, enquanto isso não acontece, nas passarelas muitos estilistas fizeram comparações com a década de 60 (que foi igualmente revolucionária e transformadora).

Daí nasceram vários modelos “trapézios”, cortes geométricos e comprimentos encurtados, por isso, vale lembrar que nessa época a revolução jovem e sexual teve seu maior destaque.

Sensível ao toque

Tudo que é feito à mão, ou pelo menos tudo aquilo que parece, teve bastante importância nesta estação.

Isso tem a ver com analisar conceitos e práticas, como a valorização do trabalho manual e trabalhos de comunidades com tradições antiquíssimas, por exemplo.

Fendace!

Depois do hackeamento entre Gucci e Balenciaga (que não pode ser chamado de collab), foi a vez da Fendi se unir a Versace.

Isso também não se trata de uma colaboração porque são duas coleções separadas: a da Fendi (por Donatella Versace) e a da Versace (por Kim Jones e Silvia Venturini Fendi).

A ação não deixou de ser emblemática, pois, quando vivos, Karl Lagerfeld e Gianni Versace estabeleceram fortes laços de amizade.

Hoje, as grifes pertencem a grupos distintos e concorrentes, além disso, ambas estão passando por uma reestruturação interna e processos de reposicionamento.

Carta de amor para Alber

A marca AZ Factory, criada por Alber Elbaz, fez um desfile em homenagem ao estilista que morreu por complicações decorrentes da Covid-19 em abril deste ano.

Além de uma coleção criada pela equipe interna, à convite, 44 estilistas apresentaram um look inspirado no legado do designer.

Choque de realidade

No desfile de verão 2022 da grife Louis Vuitton, ativistas invadiram a passarela com cartazes que diziam: “excesso de consumo = extinção”.

Mesmo que os manifestantes tenham sido retirados rapidamente, as imagens já estavam registradas como um dos momentos mais marcantes de uma temporada perdida no tempo e no personagem.


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