Heroin Chic: a volta do problemático padrão de beleza

Diferente dos movimentos que promovem a aceitação do próprio corpo, a volta da estética Heroin Chic (que bombou nos anos 90) preza pela magreza extrema.

Pois bem… Os corpos magérrimos com olheiras profundas marcaram uma época onde era glamuroso seguir a aparência de um usuário de heroína. Pesado, né?! E tudo isso começou por conta das modelos Jaime King, Joddie Kidd e, principalmente, Kate Moss. Sem falar dos fotógrafos de moda como Corinne Day e Davide Sorrenti que ficaram mega conhecidos por essa retratação decadente.

Na contramão da estética dos anos 80, o visual Heroin Chic era usado para quebrar os padrões e trazer uma certa melancolia, bem diferente do movimento grunge, que se aproximava da vida real com idéias super desconstruídas. Aliás, o uso de drogas naquela época se tornou um dos maiores aliados das produções audiovisuais, atingindo grandes clássicos do cinema como Pulp Fiction, Diário de Um Adolescente e Trainspotting.

Mas, os questionamentos dessa tendência absurda só vieram à tona quando o fotógrafo Sorrenti morreu de overdose de heroína aos 22 anos.

Sendo assim, a mãe de Davide Sorrenti (a também fotógrafa Francesca Sorrenti) escreveu uma carta para o mercado da moda implorando pelo fim da romantização do uso de drogas. Sim! O apelo foi tão forte que até Bill Clinton (presidente dos EUA na época) se pronunciou dizendo que o mundo da moda estava há muitos anos fazendo com que o vício parecesse sexy e descolado.

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O fim da estética Heroin Chic

Após muitas críticas e revoltas… A estética Heroin Chic chegou ao fim e foi substituída por um visual considerado mais saudável – personificado pela top model brasileira Gisele Bündchen.

“Mesmo no período em que o Heroin Chic explodiu, a gente não entendia direito o que aquela estética estava representando, nem mesmo os jovens, que eram mais antenados. Então, finalmente caiu a ficha e muitos de nós se afastaram de qualquer coisa que pudesse remeter à ela.” (diz Iza Dezzon, analista de tendências e comportamento).

Mas… Apesar da moda problemática do Heroin Chic ter chegado ao “fim”, a magreza aplaudida nos anos 90 ainda continuou mega valorizada por várias décadas. Afinal, Gisele Bündchen sempre foi muito magra. E o resultado disso foi a enorme obsessão do público pelo tamanho 34 que, diga-se de passagem, fez parte de outras tendências da época – por exemplo, o Y2K e o Estilo Indie. Sem esquecer do sucesso das “tumblr girls“, que representaram a era digital do Heroin Chic.

P.S.: nessa mesma época, celebridades como Paris Hilton e Lindsay Lohan começaram a ganhar muito destaque na mídia com o uso de drogas e calças de cintura baixa.

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Como a estética Heroin Chic persiste nos dias de hoje?

Bom… Todo mundo sabe o quanto que a pandemia afetou a saúde mental e o comportamento das pessoas. A Geração Z, por exemplo, viveu tudo isso bem no auge da juventude.

Presos em casa, sem encontrar amigos, nem socializar, Iza Dezzon passou a chamar esse movimento de “corpo enclausurado” – que nada mais é do que uma espécie de privação física em relação ao mundo exterior, sabe?

Agora, imagine tudo isso somado à falta de perspectiva de mudanças no mundo, guerras, aquecimento global, política facista, etc… Infelizmente, todos os problemas das gerações passadas, caíram no colo dos jovens de hoje de forma brutal.

Pandemia x Heroin Chic

É notória a forma “agressiva” como a geração do “foda-se tudo” vem se expressando… E não, eles não estão errados em querer viver a vida como se não houvesse amanhã, porque realmente pode ser que não tenha.

Um grande exemplo dessa “revolta” da Geração Z foi o ressurgimento do cigarro como uma espécie de acessório da moda. Pois é… Segundo o The New York Times, 2020 foi a primeira vez, em duas décadas, que as vendas de cigarro aumentaram – isso também inclui os vapes e os cigarros eletrônicos de sabor. Sem falar de séries como Euphoria que, assim como filmes de três décadas atrás, também trazem a temática das drogas para o mainstream, porém, com a perspectiva de apoio aos dependentes químicos.

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Agora, sobre as roupas que estão na moda… Não dá pra esquecer a volta das minissaias e das cinturas baixas nas passarelas – representadas por modelos SUPER MAGRAS, reforçando mais uma vez a ditadura do manequim.

Já nas redes sociais, principalmente no TikTok, vídeos incentivando transtornos alimentares continuam ganhando muitas visualizações. Inclusive, um estudo publicado pela revista Pediatrics, nos EUA, aponta que a hospitalização de adolescentes com anorexia e bulimia dobrou no primeiro ano de pandemia.

Pois é… A tendência Heroin Chic continua em alta SIM! E outro aspecto que eu tenho notado, são os inúmeros videos de maquiagens com os olhos pretos borrados, com cara de fim de festa, sabe?

Considerações finais

Mesmo com tantas referências negativas, especialistas acreditam que é muito difícil a estética voltar para o mainstream porque (em relação ao passado) a Geração Z tem muito mais acesso à debates e informações.

Além do mais, existe uma diferença muito grande entre as referências dos anos 90 e o que vemos hoje. Por exemplo, os diálogos sobre esses temas continuam cada vez mais abertos e acessíveis para quem tem interesse.

Muitos influenciadores abordaram temas como gordofobia e auto aceitação corporal, enquanto outros defendem a estética Heroin Chic (infelizmente). Por isso, tome muito cuidado com os padrões impostos pelas indústrias, porque nenhum biotipo diminui a importância que devemos dar para nosso físico e saúde de forma geral.

E você, o que acha desse comeback? Deixe seu comentário!

2 Comments

  • A magreza infelizmente nunca deixou de ser o padrão de beleza. Gisele Bündchen mesmo sendo extremamente magra foi o ícone de beleza durante mais de 20anos e ainda é assim por muitos considerado. Não conseguimos romper esse paradigma, apenas velá-lo. Vamos ver o que virá.

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