Quem foi Elsa Schiaparelli? Conheça a história da “rival de Coco Chanel”

Depois do post “Look de GKay é repostado pela Schiaparelli: ‘eu tô quase morrendo aqui'”, nada melhor que conhecer um pouco da história de Elsa Schiaparelli – que no próximo dia 10 de setembro faz 132 anos.

Antes de mais nada, você sabia que o efeito da “maior rival de Coco Chanel” é tão forte quanto o da própria Chanel? Pois é, ambas são muito importantes para a história da moda. Agora, voltando ao foco sobre Elsa Schiaparelli… Vale lembrar que ela é a responsável por popularizar a presença da cor rosa-choque na moda, assim como levar o surrealismo para os looks de uma forma jamais vista. São por esses e outros motivos que até hoje vários criadores se inspiram em seu talento de transformar simples itens em obras de arte.

Afinal, quem é Elsa Schiaparelli?

Nascida em Roma, mais precisamente no Palazzo Corsini, Schiaparelli veio de uma família muito rica e tradicional da região. Seu pai trabalhou como diretor na Accademia Nazionale dei Lincei (que era uma instituição dedicada ao desenvolvimento científico), enquanto sua mãe era descendente dos Médici (um regime política da Itália) e o avô era astrônomo e foi a primeira pessoa do mundo a criar os mapas de Marte, lá entre 1877 e 1890.

Desde muito nova, Schiaparelli já era fascinada por histórica antiga, mitologia e religião. Segundo os relatos, ela criava mundos de fantasia em sua cabeça e sonhava em ser atriz, mas pela influência da família, estudou filosofia na Universidade de Roma.

Apesar de ter inúmeras referências dentro de casa, em1911, aos 21 anos, a estilista escreveu alguns poemas inspirados em Arethusa (ninfa da mitologia grega) que logo assustariam seus pais pelo conteúdo sexualmente explícito. Com isso, ela foi mandada para um convento na Suíça – de onde escapou após fazer greve de fome.

Sem ânimo de continuar morando com a família, Elsa Schiaparelli se despediu de Roma e se mudou para Londres no ano de 1913 (relatos afirmam que ela se sentia limitada diante a sua família). Enfim, pouco tempo depois da mudança, em uma conferência sobre tecnologia, Schiaparelli conheceu um teosofista por quem se aproximou, casou após 1 ano e, em 1916, se mudou para Nova York – onde, durante a viagem de navio, Elsa conheceu Gabrièle Picabia, esposa do pintor Francis Picabia.

A relação de Elsa Schiaparelli com a arte após mudança para Nova York

Foi por meio de Gabrièle Picabia que ela conheceu grandes artistas da época. Por exemplo: Man Ray e Marcel Duchamp.

Porém, sobre seu casamento… Tudo indica que eles eram bem felizes – onde até então ela e o marido viviam com o dinheiro dado pelos pais no casamento. O tempo passou e no ano de 1920 eles tiveram uma única filha, chamada Maria Luisa Yvonne – que nos primeiros meses de vida teve poliomielite.

Por isso, o dinheiro ficou mais curto e tudo começou a ficar cada vez mais difícil para eles que logo se divorciariam em 1922. Então, ela decide voltar para a Europa porque lá haviam os tratamentos mais avançados da época. Entretanto, ao invés de voltar para Roma, ficou em Paris.

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O encontro da artista com a moda após seu divorcio

Elsa Schiaparelli trabalhava num antiquário durante o dia, e à noite estava nos mesmos bares e restaurantes que reuniam grandes artistas e boêmios. Mas… Foi só aos 32 anos que ela se encontrou com a moda. Tudo começou com uma ida da artista ao ateliê de Paul Poiret (um grande estilista da época) enquanto acompanhava uma amiga. Lá ela aproveitou para experimentar alguns vestidos, mas não imaginava que o estilista pudesse ficar encantado com seu estilo.

Ele pediu para que Elsa pegasse algumas peças emprestadas sempre que quisesse. Nesse momento ela estava conhecendo de perto a alta-costura – fonte de inspiração para começar a desenhar suas roupas.

Deu tudo certo! Após anos trabalhando como estilista freelancer, uma de suas criações “viralizou”. Era um pulôver tricotado à mão, com um laço em trompe-l’oeil – a estampa que roubou a atenção dos especialistas de moda da época e que logo se tornaria o ponto de virada da artista.

Origem da marca

Elsa Schiaparelli fundou sua marca no ano de 1927 e já no ano seguinte conseguiu inaugurar um espaço com ateliês e escritórios no número 4 da rue de la Paix, em Paris – próximo da Place Vendôme, um epicentro de moda na época. A marca recebeu o nome de “Schiaparelli – pour le Sport”, afinal, no início de sua carreira, Elsa só desenvolvia roupas esportivas em tricô. Por exemplo: maiôs e pijamas de praia – uma espécie de macacão para ser usado por cima das roupas de banho e para praticar esqui.

O sucesso estava cada vez mais garantido, inclusive pelas peças coloridas que contrastavam com desenhos de peixes, esqueletos, tartarugas e tatuagens de marinheiro. Sem esquecer do ano de 1928, quando surgiu o primeiro perfume da marca, conhecido como “S”; a fragrância chegou até aos Estados Unidos numa época onde era MUITO difícil criar acordos de licenciamentos de marcas para comercializações. Foi algo inovador!

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Veja como a inovação e a ousadia de Schiaparelli marcaram a década de 30

Sim! Com muita inovação, ousadia, exclusividade e pioneirismo, a marca fez história. Por exemplo: já aconteceu de tudo isso inspirar os ateliês da alta-costura ao colocar zíperes aparentes nos vestidos, que apesar de decorativos, também eram funcionais. Inclusive, ela usava zíperes de plástico – que eram novidades naquela época.

Na biografia de Elsa Schiaparelli consta que os primeiros vestidos-envelope do mundo foram criados por ela bem antes de Diane von Fürstenger nascer. Aliás, uma super curiosidade: você sabia que ela foi a responsável por lançar aquele estilo de usar vestidos de festa com jaquetas? Pois é, hoje, este truque de estilo é super comum, mas para a época foi uma grande inovação de styling.

Revolucionária, a estilista se tornou a pioneira em criar e patentear um maiô com sutiã embutido para dar mais sustenção aos seios. O item foi bastante usado também em vestidos logo depois. E como já deve ter dado para perceber… Desde que Elsa começou a crescer, ela nunca mais parou!

Em 1932, por exemplo, a marca chegou a contar com 400 funcionário em oito ateliês diferentes e a placa da rue de la Paix (que eu citei no começo do post, lembra?) passou a dizer “Pour le sport, pour la ville, pour le soir” – que significa: “Para o esporte, para a cidade, para a noite”.

Elsa Schiaparelli não só desenhava roupas, como passou a desenvolver seus próprios tecidos e materiais já com a tecnologia daquela época. Por exemplo: o crepe de rayon texturizado e o rhodophane (transparente e delicado como vidro). Muito visionária!

Além disso, 2 anos depois ela estampou na capa da Time Magazine como a primeira estilista mulher a ganhar esse destaque na revista.

Um pouco sobre a clientela de Elsa Schiaparelli

A clientela de luxo da estilista contava com ninguém mais ninguém menos que as atrizes: Marlene Dietrich, Katharine Hepburn, Mae West, Vivien Leigh, Lauren Bacall, Greta Garbo e Ginger Rogers (entre muitas outras). Wallis Simpson, a duquesa de Windsor, por exemplo, era tão fã de Schiaparelli que teve todo o seu enxoval assinado pela grife.

Naquela época ela já havia criado peças com artistas famosos. É o caso de um colar com contas de porcelana que parecem Aspirinas – feito em parceria com a escritora russa Elsa Triolet. E do vestido longo com pregas em trompe-lóeil – da parceria com o escultor Alberto Giacometti.

Conheça as principais colaborações de Elsa Schiaparelli

Suas principais parcerias e colaborações foram feitas com Salvador Dalí e Jean Cocteau. Confira:

Salvador Dalí criou algumas de suas peças mais icônicas, como o vestido com estampa de lagosta, o vestido de esqueleto com enchimentos que se assemelham aos ossos das costelas e da bacia, outro vestido com estampas que parecem cortes na pele e um chapéu com formato de sapato.

Jean Cocteau colaborou com desenhos que logo foram parar nas estampas dos vestidos, casacos, acessórios, cintos e jóias.

Assim, a criatividade de Elsa Schiaparelli foi ganhando cada vez mais destaque. Por exemplo: com a aparição de luvas com aplicações, insetos em chapéus, perfume em forma de cachimbo e bolsos em forma de gavetas.

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Entenda como ela popularizou o uso da cor-de-rosa choque

Entre suas inúmeras criações, em 1937, Elsa inseriu no mercado o perfume Shocking – cujo vinha num frasco com o formato de um corpo de manequim, inspirado na atriz Mae West. Inclusive, a propaganda da fragrância era toda cor-de-rosa.

Historiadores da moda comprovam que a cor-de-rosa era pouco usado naquela época. Eles dizem que era bem mais comum o uso de tons mais claros e puxados para os tons de pêssego… Pelo menos até Elsa quebrar os padrões ao misturar azul e vermelho para trazer um tom vibrante que logo se tornaria a principal cor da marca. Sendo assim, a nova tonalidade começou a fazer parte de suas criações – que ganharam ainda mais destaque com a participação no figurino do filme “Moulin Rouge”, em 1952. Ou seja, se hoje o rosa-choque existe na indústria da moda, foi porque Elsa Schiaparelli criou.

Sucesso interrompido pós-ataque

Sim, o sucesso da estilista foi interrompido no início da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1939.

1 ano após Paris sofrer ataques da Itália, Elsa continuou tentando de tudo para conseguir manter os ateliês, mas foi impossível. Então, mudou-se para Nova York e seguiu sem a marca até 1945 – logo depois que acabou a guerra.

Seu retorno fez tanto sucesso que ela teve que abrir uma nova fábrica em Paris. Enquanto isso, o perfume Roy Sleil (criado em parceria com Salvador Dalí) foi recorde de vendas e em 1946 ela criou a coleção que recebeu o nome de “A Constelação”. Segundo informações do portal ELLE: “eram seis vestidos, um casaco dupla-face e três chapéus dobráveis que, juntos, pesavam apenas 5,4 quilos. Perfeitos para as mulheres que ousavam viajar mais. Uma grande modernidade!”.

Essa época também foi marcada pelos novos nomes da alta moda – que já haviam passado pelas mãos de Elsa Schiaparelli – como Pierre Cardin e Hubert de Givenchy.

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E mais uma vez, os anos de dedicação às grandes criações foram deixados para trás quando ela decidiu encerrar as atividades de sua grife no ano de 1954. Os noticiários da época anunciaram o fechamento, enquanto o porta-voz da marca negava e revelava que os novo tempos seriam de menos procura por alta-costura e roupas sob medida. Ele também dizia que este ocorrido com certeza iria causar grandes impactos na forma como as pessoas trabalhavam.

E foi assim que a estilista decidiu escrever sua autobiografia, intitulada de “Shocking Life”, parar de fazer roupas e manter apenas sua linha de perfumaria.

Infelizmente, em 1973, veio à falecer por causas naturais enquanto dormia.

Para todo fim, um recomeço…

Só pra você ter uma idéia: John Galliano, Sonia Rykiel, Yves Saint Laurent e Gianni Versace se inspiravam muito nas criações de Schiaparelli.

Porém, a marca já estava começando a ficar esquecida pelas pessoas pós-fechamento…

Daí em diante, após longos e demorados anos, Diego Della Valle (proprietário da marca de artigos de couro Tod’s) decidiu relançar a Schiaparelli em 2012 em grande estilo. Com direito a virar tema do Met Gala daquele ano: “Schiaparelli & Prada: Impossible Conversations”.

A exposição no Metropolitan Museum of Art, que recebeu o mesmo nome, explorava as semelhanças entre Elsa e Miuccia Prada, embora muito diferentes. E não demorou muito até que a marca retornasse às passarelas da alta-costura de Paris em 2014 (depois de 60 anos). Hoje, as coleções são assinadas pelo diretor artístico Daniel Roseberry – um norte-americano do Texas que trabalhou por 10 anos na Thom Roseberry. O novo diretor já revelou que “o trabalho de Elsa Schiaparelli refletia no caos e na esperança da era turbulenta em que ela viveu!”. Ele vê semelhanças com os tempos de hoje:

“Quero oferecer uma fantasia, um sonho que parece relevante e necessário para os dias de hoje…”

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Por que ela ficou conhecida como “rival de Coco Chanel”?

Entre tantas histórias, uma delas diz que Chanel já colocou fogo em Elsa durante um evento – fato descrito na biografia “Mademoiselle: Coco Chanel and the Pulse of History”, assinada por Rhonda K. Garelick. Aliás, para Chanel, Elsa era apenas “aquela italiana”. Enquanto para Elsa, Chanel era só “uma chapeleira”.

De uma coisa eu tenho certeza: as duas dividiram todos os holofotes da moda parisiense durante toda a metade do século 20. E mesmo com estilos completamente diferentes, seja pelas trajetórias ou pelas criações, elas tinham algumas coisas em comum. Por exemplo: o olhar visionário, a aproximação com os maiores artistas da época, o uso de perfumes como estratégia de marketing e a personalidade muito forte – responsável por torná-las inesquecíveis.

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Personalidades que usam a grife:

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